Você é o que os seus pais comeram!
- Cris Cousseau
- 21 de mar. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 2 de jan. de 2024
Há alguns anos atrás, foi proibida a fabricação de mamadeiras de plástico policarbonato no Brasil, por conta do aumento do risco de puberdade precoce, câncer, alterações no sistema reprodutivo, infertilidade, aborto e obesidade, associados a ingestão de Bisfenol A, um composto presente neste tipo de plástico. Além disso, tabagismo, ingestão de álcool dentre outros fatores de nutrição e estilo de vida tem uma grande influência com obesidade, risco desenvolvimento de câncer e o longevidade das pessoas e de seus descendentes.
Nós somos o que comemos, mas além disso, somos também o que nossos pais e o que nossos avós comeram. Isso meus amigos, é a EPIGENÉTICA!

Imagem: Istock
Epigenética significa literalmente, algo acima da genética, e foi um termo utilizado pela primeira vez em 1940, por Conrad Waddington, para descrever as interações de nossos genes com o meio ambiente. Logo, a epigenética é definida como: “o estudo de processos que produzem um fenótipo herdável, mas que não dependem estritamente da sequência de DNA, ou seja, são modificações que alteram o fenótipo sem modificar o genótipo”.
Mas, tu deve estar se perguntando, o que esse tal de genótipo e fenótipo? Bem, genótipo é a composição genética de um indivíduo, ou seja, os seus genes. Os genes são fatores que estão lá dentro das nossas células e que contém a receita pra que a gente pudesse ser ‘produzido’ e para o funcionamento do nosso corpo, são eles que mandam no pedaço, que ditam as regras do que vai acontecer e quando. Já o fenótipo, é a manifestação visível do genótipo, imagine que o gene deu uma ordem e ela foi cumprida, por exemplo, você tem genes que conferem característica de olhos azuis, essa vai ser a ordem: esta pessoa vai ter olhos azuis, para que essa ordem seja executada é preciso a ação de vários outros compostos que serão recrutados, quando isso acontece e a ordem é executada, você tem olhos azuis, ou seja este é seu fenótipo, é a característica que derivou daquela ordem! Lembrando que todos estes processos acontecem dentro das nossas células.
Tá, mas onde é que a epigenética entra nessa bagunça toda? Ela modifica o nosso fenótipo, só que o nosso genótipo continua igual, a ordem é a mesma, mas a característica vai ser outra, é como se os meus genes ordenassem que eu deveria ter olhos azuis, mas no fim eu tenho olhos castanhos (exemplo bobo, pra ficar fácil de entender, mas isso pode acontecer com qualquer característica que nós possuímos). Ela desliga aquela ordem dada pelos genes, e a modificação dos padrões epigenéticos, podem levar a um desequilíbrio no organismo, onde o indivíduo desenvolve alguma patologia, como o câncer por exemplo.
Como e porque isto acontece? Bom, vamos há alguns exemplos mais visíveis da epigenética, pense em uma população, uma colmeia de abelhas, as fêmeas se desenvolvem a partir de larvas que são geneticamente idênticas, tem o mesmíssimo genoma, mas a dieta que elas seguem faz com que sejam diferentes, a geleia real transforma uma simples abelha geneticamente igual às outras em abelha rainha fértil.
Outro exemplo são as diferenças fenotípicas, de gêmeos idênticos, que podem ser atribuídas a epigenética, cada organismo pode responder de forma diferente a algum fator que está interagindo com seu corpo e apresentar fenótipos, ou características diferentes, um pode ter porte atlético e o outro ser obeso, por exemplo. Os estudos com gêmeos idênticos e fraternos foram pioneiros nesta área. E a partir dai derivaram muitos outros.
Com todo o avanço em pesquisas sobre epigenética e seus efeitos nos genes, houve também o desenvolvimento e aplicação de técnicas já existentes para conseguir avaliar estes efeitos ambientais em nosso organismo. Como sabemos o genoma humano já está muito bem mapeado e isto está divulgado em plataformas e bancos de dados, o que nos permite conhecer quais são as sequências dos nossos genes que contém a informação, ou a ordem, que precisa ser executada, o nosso genótipo, como já explicado anteriormente. Já se tem o conhecimento também de qual ordem cada gene está ditando, por exemplo: temos genes que conferem características físicas, como cor dos olhos, cabelos, pele; características fisiológicas para o correto funcionamento do nosso organismo, como por exemplo produção de insulina, crescimento e respiração celular, dentre tantos outros. Com este conhecimento, conseguimos nos utilizar destas técnicas para saber qual gene está ligado ou desligado, em qual ordem determinado fator ambiental está influenciando.
Podemos citar como exemplos de técnicas moleculares: imunofluorescência indireta (IF), imunoprecipitação de cromatina (ChIP), PCR sensível a metilação, técnicas de sequenciamento.
Assim como os animais, as plantas também estão sujeitas a essas ações da Epigenética. Esse entendimento da interação do genótipo com o meio ambiente e as alterações fenotípicas que isto pode gerar, são peças chaves para o melhoramento genético em plantas, por exemplo. E também podem nos ajudar, e muito, a melhorar a nossa saúde. E isso é possível focando apenas (mas não somente) na nossa alimentação.
Já tinha ouvido algo relacionado a esse assunto? Se você tiver alguma dúvida deixa nos comentários, quem sabe posso trazer mais informações em um próximo post.
Referência: NICIURA, Simone Cristina Méo; SARAIVA, Naiara Zoccal. EPIGENÉTICA: Bases moleculares, efeitos na fisiologia e na patologia, e implicações para a produção animal e a vegetal. 1ª ed. Embrapa, Brasília-DF, 2014.
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